O homem que abriu um buraco de 1.8 milhões de euros em 2010 é o mesmo homem que não consegue encontrar 400 milhões para o OE2011. A "credibilidade" de Teixeira dos Santos morreu, e levou consigo a última pinga de respeitabilidade do governo.
I. Não se percebe. Não se percebe por que razão Teixeira dos Santos não quis encontrar mais 400 milhões na despesa do Estado. O PSD aceitou a subida de impostos, e pedia, em troca, um aumento de apenas 1% no IVA (e não apenas de 2%; esta descida de 2% para 1% equivale a cerca de 400 milhões). Em resposta, Teixeira dos Santos não quis encontrar esses 400 milhões nos mais de 70 mil milhões de despesa corrente do Estado. Teixeira dos Santos disse, sem se rir, que não consegue cortar mais nada, nem sequer no "Estado Paralelo", aquela segunda camada estatal composta por fundações, empresas municipais, institutos, observatórios, etc.
II. Isto é ainda mais grave quando pensamos a médio-prazo. Porque o OE2011 é só o primeiro orçamento de guerra. O OE2012, o OE2013, o OE2014 também serão igualmente exigentes, até porque as bombas das PPP vão começar a cair de pára-quedas. Não há solução: nós temos de cortar na despesa gordurosa e inútil do Estado, no sentido de proteger as áreas nucleares. Sem esse corte, não haverá consolidação orçamental a médio-prazo e o Estado Social poderá entrar em colapso. E, neste sentido, o dado mais negativo destas negociações é o seguinte: o PS não está a olhar para o médio-prazo, não está a preparar o caminho para aquilo que tem de ser feito nos próximos anos.
III. O PSD tem a razão substantiva do seu lado. É mesmo preciso cortar em todo aquele "Estado Paralelo". Todavia, o PSD não se livra desta crítica: o PSD está a ameaçar com uma crise política numa altura em que o país não pode ter crises políticas. Estes não são tempos normais. Parece que é a sina do PSD dos últimos anos: tem a razão substantiva do seu lado, mas, depois, não encontra a forma correcta de expressar essa razão. Ferreira Leite tinha toda a razão do seu lado, mas foi incapaz de criar um discurso político (a razão técnica não é um discurso político). Passos tem razão nas exigências que faz, mas está a dançar um tango desnecessário e perigoso - para o país.
fonte: Henrique Raposo